domingo, 12 de maio de 2019

Porque o Homembit gosta tanto de Ceremony do New Order?

O título pode parecer aleatório, mas quero deixar ele indexado pro meu filho encontrar no futuro, pois foi uma pergunta dele que me fez pensar um tanto e voltar aqui pra fazer algo que há anos não faço: escrever e compatilhar.

No dia que escrevo, o Luigi tem 7 anos, é meu amigão e companheiro de video-game igual nunca eu sonhei que iria um dia ter na vida. É meu filhote, meu amigo de bagunça e meu companheiro pra todas as horas do dia e da noite, tal como meu Pai. Que assim continue. A mãe dele (amor da minha vida) que sugeriu o nome, e da minha parte foi aceito porque tudo o que o Jo-Mar(io) aqui queria na vida era um Luigi. Nego qualquer outra versão :P

Voltando ao assunto, um dia desses entediado em casa ele pegou uma folha sulfite e sem saber o que era um caderno de enquete (se você sabe, é velho sim), escreveu algumas peguntas pra nos entrevistar. Uma delas era: Qual a sua música predileta?

Maluco por música desde de 10 de Setembro de 1974, eu confesso que buguei. Pensei em tudo o que ouvi a vida toda, em Led Zeppelin que é de longe minha banda de coração, mas de 10 anos prá cá nada me deixa mais maluco musicalmente do que Joy Division e New Order. Acabei respondendo ao questionário dele: CEREMONY

Então fica aqui a explicação pra ele e pra quem mais quiser ler, depois de tantos anos ouvindo e tocando de tudo, porque essa é a minha música favorita.

Ela não foi composta do nada, numa tarde de verão e nem em uma jam session divertida. É uma música linda, alegre, que traz dentro de si uma história de parto difícil de ignorar...

Se você que está lendo não sabe quem foi Ian Curtis, corre no google pra pesquisar... spoilers de monte pela frente!

Joy Divison foi uma banda, na época pequena e quase irrelevante, de Machester. Criada por um grupo de malucos que sequer sabiam exatamente o que estavam fazendo musicalmente, mudou a história da musica como conhecemos. Foi um meteoro que em 2 anos fez um estrago no cenário pós punk que até hoje ouvimos influências em praticamente tudo o que toca no rádio ou a sua playlist moderninha e descolada aí no Spotify.

Avisei sobre os spoilers, mas depois de músicas maravilhosas gravadas como Love Will Tear Us Apart, Transmission, e outras "tantas poucas" (licença poética aqui), dois discos registraram toda da genialidade deles. Ian Curtis decide dar o fim à sua vida em 18 de Maio de 1980. Os membros que "sobraram" da banda resolveram continuar em frente com um novo nome: New Order.

Pra quem é fã deles mesmo e não conhece os detalhes do que aconteceu, deixo no final do artigo alguns links de livros (e filmes) que contam essa história toda. Desde já, recomendo a leitura!

O processo de composição deles era baseado em jam sessions, experimentações e o que muita gente hoje ia considerar "perda de tempo".

Resumindo uma história longa, poucos dias antes de morrer, o Ian Curtis apareceu com uma letra muito foda no ensaio, e brincando com ela, gravaram isso aqui. Era a primeira versão de Ceremony, gravada em um toca-fitas qualquer, sem ninguém ter sequer um pedaço de papel com a letra escrita. Era assim que os gênios trabalhavam: ouviam depois, acertavam a letra, música e arranjos e assim tudo acontecia.

Ian Curtis se vai, a banda decide continuar e tal como você deve ter ouvido ai em cima (se não ouviu, para de ser ansioso e ouça), sobra essa fita K-7 pra eles.

Se ler os livros que vou deixar abaixo, vai ver que eles resolvem seguir e sem ter muito o que tocar, vão literalmente compondo as músicas do jeito mais maluco possível: no palco!

Aqui estão eles em 1981 em New York experimentando ela ao vivo (tem esse outro video mais raro ainda, mas ela já parece mais redonda). Aqui o resultado final que você já deve ter ouvido.

Porque é a minha música favorita? Porque letras, arranjos, sonoridade e tudo o que mais existe, foi construido com base em uma única gravação K-7 de um dos últimos dias de um gênio e uma banda que morreu. Foi composta, ajustada, depurada e arranjada no palco, na frente do público e de acordo com a reação dele.

Não sei o que o Ian tinha em mente quando escreveu a primeira versão. A que ouvimos hoje, é uma Cerimônia a tudo o que a música pode representar: saudade, construção colaborativa, e uma melodia que toca na alma!

Peter Hook, baixista do Joy Division e New Order, toca ela de um jeito mais do que especial nos seus shows hoje em dia. Desafinado, mas mostra a essência daquele primeiro ensaio, um dos últimos com o Ian Curtis.

Comecei esse post falando do Luigi, e encerro pra ele: Por isso que o Papai ama essa música, Neguinho :)

Seguem as referências pra quem quiser saber mais sobre isso tudo:

Livros (na ordem que recomendo a leitura):
Chapter and Verse - New Order, Joy Division and Me (versão do Bernie, gosto dele não :P)
Touching from a Distance: Ian Curtis and Joy Division (Biografia do Ian contada pela esposa dele. Recomendo!)
The Hacienda: How Not to Run a Club (como o New Order criou o que você conhece hoje como Dance Club, Danceteria para os mais velhos!)

Filmes:
Control (não assista em hipótese alguma se estiver deprimido)
24 hour party people (se balançou a bunda em uma estrobo uma vez na vida, assista!)